SIGNIFICA...

ÉTICA: Parte da Filosofia que estuda os
fundamentos da moral.

MORAL: Ciência dos deveres do homem.
Bons costumes; Honestidade; Estado do espírito; Modo de proceder com justiça.

DIREITO: O que podemos exigir em conformidade com as leis ou a justiça.

LEI: Preceito ou regra estabelecida por direito; Norma, obrigação.

JUSTIÇA: Prática e exercício do que é de direito.


26 de dez. de 2010

EDITORA APOSTA NA HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO


Elas acreditaram no Rio


Por Sofia Cerqueira (Veja)

Com obras inspiradas em lugares, personagens e fatos históricos da cidade, as sócias da editora Casa da Palavra foram ignoradas anos a fio pelas grandes livrarias de outros centros. Agora, tudo mudou...


Até pouco tempo atrás, apostar no potencial do Rio de Janeiro era algo visto com desconfiança. A cidade estava com sua cotação lá embaixo, em processo de esvaziamento econômico e sem perspectiva de uma guinada na autoestima. A editora Martha Ribas lembra um episódio exemplar desse descrédito geral. Em 1996, ela criou a editora Casa da Palavra, que procurava distinguir-se no mercado pelos investimentos maciços numa literatura carioca, podemos dizer assim. No intuito de impulsionar o novo negócio, ela desembarcou em São Paulo, onde tinha reunião agendada com o diretor de uma das principais redes de livrarias nacionais. Mas nem chegou a ser recebida. Foi avisada pela secretária de que ele não tinha interesse em publicações com aquela temática. No sul do país e em Minas Gerais, encontrou também as portas fechadas. Mesmo por aqui, já com alguns títulos nas prateleiras, ela levou dois anos para conseguir marcar um encontro de trabalho com o gerente da cadeia Saraiva. Tempos depois, a procura se inverteu. Logo após a escolha do Rio como sede da Olimpíada, Martha recebeu uma ligação de Waldiney Azevedo, o tal gerente que inicialmente a desprezara. “Parabéns! Vocês fizeram a aposta certa e agora chegou a hora de aproveitar”, felicitou. “Várias vezes fui chamada de maluca”, lembra Martha, 38 anos, formada em produção editorial pela UFRJ. “Cansei de escutar que não havia espaço para publicações sobre um lugar tão violento e vítima de balas perdidas.”


A realização da Copa do Mundo e da Olimpíada foi a fagulha de um processo encorpado por várias iniciativas que renovam a fé do carioca no futuro. Uma conjuntura, diga-se, favorável à linha da Casa da Palavra. Em catorze anos de existência, ela despejou no mercado 182 títulos, dos quais cerca de 100 dedicados de alguma forma à cidade, ao abordar sua ambiência, personagens ou fatos históricos. Com a mudança de humor sobre o Rio, os efeitos são visíveis. No ano passado, foram 24 lançamentos. Neste ano, serão 32. Até o Natal, chegam às prateleiras mais seis obras com o mesmo foco. Integram a lista Rio de Noel, que pincela como era o município no início do século passado, quando viveu o Poeta da Vila, e Porto Maravilha + 6 Casos de Sucesso de Revitalização Portuária, com exemplos bem-sucedidos nessa área (veja o quadro ao lado). O número total de publicações, se confrontado com o desempenho dos gigantes do setor, é até acanhado. A Record, por exemplo, costuma lançar sessenta livros por mês. Embora seja voltada para o Rio, a Casa da Palavra busca diferenciar-se das concorrentes em cada projeto desenvolvido. “Somos a Isabela Capeto dos livros”, compara Martha, numa referência à estilista que confecciona roupas com um toque artesanal.



Sem grandes recursos em caixa, com produção em pequena escala, a editora conseguiu sobreviver nesses anos todos graças às parcerias. Metade dos títulos se tornou viável com o aporte de verbas proveniente de empresas privadas e órgãos públicos. É o caso do maior sucesso comercial da companhia, o guia Rio Botequim, cuja primeira tiragem, em 1998, foi bancada pela prefeitura e vendeu mais de 50 000 exemplares desde então. A nona edição, que sai em novembro, vem com o patrocínio de uma empresa de TV por assinatura. Nesse modelo, foi lançado, em 2000, o Guia de Arquitetura, dividido em quatro volumes. Cada um deles enfocava um determinado estilo das construções cariocas, podendo ser comprado separadamente. Com a propaganda boca a boca, vendeu 28 000 exemplares. Foi a primeira indicação de que o caminho poderia render bons frutos.



Fundada por Martha e dois amigos, que acabaram abandonando o negócio, a editora funcionou inicialmente de favor numa casa no Alto da Boavista. Logo no início, teve os três computadores, a impressora e os aparelhos de telefone roubados. Mas as privações são página virada. Hoje, a empresa ocupa um belo escritório no Centro, com vista para a Baía de Guanabara, onde a fundadora e suas sócias, a jornalista Ana Cecília Impellizieri Martins, 32 anos, e a publicitária Thais Marques, 42, discutem os próximos passos. Para 2011, estão em andamento publicações sobre a Feira de São Cristóvão, a orla, os 100 anos de moda praia e os sabores de botequins, feiras e restaurantes. “A Casa da Palavra é sinônimo de livros caprichados e bonitos”, diz o escritor Ruy Castro, que lançou Rio Bossa Nova pelo selo. E também referência de obras sobre a nossa cidade.